“Ah como eu queria que você pudesse ver
Tudo o que está acontecendo comigo
Estou pensando em voltar ao passado
É verdade que o tempo está voando rápido demais”
(Miley Cyrus)
Fevereiro novamente nasceu. Faltava pouco, tão pouco pra mais um ano. O vento batia na janela, o ar era gelado e os pensamentos corriam, eram conformados/inconformados. Mas o sono era pesado, e não foram capaz de resistir me fechar os olhinhos.
As risadas estavam ficando nítidas, as pessoas estavam se aproximando. E o braço em seu ombro a apertava, e ela não tinha coragem de abrir os olhinhos e encarar quem a abraçava. E era um peito nu. Permitiu-se respirar, e então pode entender por que todas as risadas e pessoas. Era impossível algum dia ela deixar de reconhecer aquele perfume. Ela o abraçou, apertou-o. E só depois teve a consciência que estava de olhos fechados. O sorriso era o mesmo, nada havia mudado. Estava da mesma forma bela que ela se lembrava. Não tinha consciência de um sonho, era muito real para ser mentira. Era real demais para ser uma ilusão.
– Finalmente você apareceu.
– Oi Filha! – disse ajeitando seu cabelo.
– Sinto sua falta. – o abraçou novamente. Era tudo que conseguia dizer. Ao contrário dos seus olhos marejados de saudades. Seu Pai ficou incomodado com as palavras, como se doesse ouvi-las.
– Filha...
– Pai, eu te amo.
– Eu também te amo.
– Não, você não entende. Eu realmente te amo. – O encarava agora, a espera que ele não respondesse. E assim ele fez. Entendeu seu silêncio. E espero alguns instantes para processar tudo. Estava cansada de guardar, de ir levando e não poder dizer tudo o que sempre quis, diretamente. – Não sei como consegui ser tão forte, não sei como fui capaz de segurar a saudade no meu peito.
– Por que você sempre foi uma garota forte. É por isso que me orgulho de você.
– Não Pai... – e as lágrimas acompanharam o dialogo – Não sou! Não sabe quantas vezes eu segurei para não desisti? Tem tamanha idéia de quantas vezes pensei que estar com você seria melhor?
– Não, você não pode – seu rosto ficou sem expressão. Rígido.
– Exatamente. Eu não posso. – sua voz estava elevada – Esse sempre vai ser o problema. ‘Não poder’. Não poder ser capaz de tê-lo, brigando, bêbado ou sorrindo. Não poder ter lembranças para guarda, brigas para importunar. ‘Não poder’ dói demais, esse não poder te abraçar, não poder chorar em seu braço até pegar no sono, ou ao contrario, ir como uma criança até sua cama porque simplesmente não consigo dormir. Eu me tornei uma pessoa egoísta, egoísta por não querer que toquem em suas coisas, por não querer falar de você e egoísta por fingir as vezes que você nunca morreu, mais egoísta de não querer que contem suas historias, falem de você em cada carnaval e natal. Tornei egoísta por querer suas lembranças só para quem merecem tê-la. Entende? Porque hoje só tenho algumas roupas, seu travesseiro (que já perdeu o cheiro) e algumas fotografias ali e aqui. Algum poço de lembrança, cada vez mais fundo, inalcançável. Eu sinto sua falta Pai, e você não entende como é viver sem o meu herói para me inspirar. O que é viver sem você para me espelhar... Por que você morreu, e...
– Minha linda, eu não morri. Estou aqui.
– Você morreu Pai.
– Então, você quer dizer que eu morri para você?
– Não. Jamais.
– Então. Minha pequena, eu não morri. Sempre estarei aqui. Dentro do seu coraçãozinho. Se tantas vezes você esteve forte, foi por que você guardou as lembranças, você as escreveu, cuidou bem das memórias. Elas te tornaram forte até hoje, elas me manterão vivas na tua vida.
– Não sabe o que é um cotidiano sem você. Você não sabe o que é viver com as lembranças ruins, as palavras sangrentas sem poder dizer-lhe desculpas.
– Digo o mesmo para você, tem idéia de como é “para mim”? – sua voz era calma, assim como seu rosto – Perdoe se não tivemos uma única chance de nos despedirmos. Se não tivemos chance de trocarmos algumas ultimas palavras. Só que nem sempre é como a gente espera, nem sempre é como queremos. É uma frase bem conhecida não? Mas é a realidade.
– Eu queria você de volta, eu queria tanto poder ter seus abraços de volta.
– Eu queria vê-la crescer. Eu queria vê-la tornasse mulher. Queria vê-la com seus 15 anos. Mas eu tenho que estar distante e longe, incapaz de fazê-la escutar todos meus sermões. – ela riu com a forma que ele disse ‘sermões’. Levantou-se e sentou-se do seu lado direito. Apertou-o com toda força que tinha, com toda força que seus braços finos agüentariam. Beijou teu peito, e brincou com seus colarinhos de ouro. Ela o abraçava como se fosse capaz de arrastá-lo dali, como se tivesse algum poder de lavá-lo para sua dimensão, o seu “mundo real”. O mundo em que ele era de carne e osso, não um fantasma. Que vem de visita sem avisos quando quer e não volta sempre que é convidado.
– Eu vou te amar além de qualquer morte. Eu te disse um dia que você é tudo o que eu tinha. Era minha razão, e sempre será. Morrer tornou-me apenas um detalhe. Eu nunca vou te deixar. Estarei lá no seu casamento. Estarei com você quando estiver brincando com meus netos, estarei lá quando adoecer e quando passar por alguma dificuldade. Leve-me como um exemplo meu anjinho, e faça diferente de tudo que eu fiz.
– Você não viveu só de erros, você foi uma pessoa maravilhosa.
– Mas foram minhas escolhas erradas que me matou. Não quero isso para você. Dói-me tanto quando a vejo com alguma cerveja. Nunca quis essa vida para você...
– Desculpa Pai. Estou tão envergonhada.
– Deveria. – Disse grosso e frio.
Silêncio.
– Às vezes dói tanto o coração. Queria ter você por perto, para dar-me conselhos – disse, quebrando o silêncio.
– Você os tem, só não quer enxergar. Olha, guarde isso sempre para você. Amar não se resume em Ele e Ela. Amar vem ao próximo, amar vêm de família, de companhia, de abraços e piadas. Amar, minha linda, vem de prazer social, prazer por conseguir um sonho. Amar é universal, lembre-se sempre que amar não vive só de paixão. Amor vem de querer viver.
– Você consegue mudar meus conceitos. Faz-me ver de outra forma, tudo.
– Por que, você é meu espelho.
– Todos dizem isso. - sorriram
– É por isso que você sempre será meu melhor amigo?
– Sempre, até todo o sempre.
Não sei como descrever o quanto esse texto me tocou,me emocionou de verdade;isso nos faz abrir os olhos e ver realmente a quem devemos dar valor,e a cada perda nos tornarmos cada dia mais forte,pq a pessoa que a gente ama pode ter morrido aki na terra,mais em nossos pensamentos ela vai estar sempre com nos,a cada momento.Perfeito esse texto Ana Clara
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